“ELIZABETH ZOTT TAMBÉM GUARDAVA RANCOR. Só que seu rancor era dirigido principalmente a uma sociedade patriarcal fundada sobre a ideia de que as mulheres tinham menos valor. Menos habilidades. Menos inteligência. Menos criatividade. Uma sociedade que acreditava que os homens iam para o trabalho e faziam coisas importantes – descobriam planetas, desenvolviam produtos, formulavam leis – e as mulheres ficavam em casa e criavam os filhos. Ela não queria filhos – isso ela sabia sobre si mesma -, mas também sabia que muitas mulheres queriam filhos e uma carreira. E o que havia de errado nisso? Nada. Era exatamente o que os homens tinham.” (pág. 18)
Uma Questão de Química, romance escrito pela autora Bonnie Garmus, foi sem dúvida uma das minhas melhores leituras do ano!
É impossível não virar fã de Elizabeth Zott, personagem que desafia uma sociedade machista, misógina e sexista. Um livro que traz diálogos de extrema relevância para a sociedade, ao mesmo tempo que é divertido, inteligente e emocionante.
Ao longo da narrativa, Elizabeth Zott se vê criando a pequena Mad sozinha e com uma rede de apoio limitada a um cachorro e uma vizinha da casa à frente, a querida Harriet.
Diante de um destino imprevisível, com diversas reviravoltas (uma delas de cortar o coração), a personagem está prestes a se tornar uma das maiores estrelas da TV americana ao aceitar a oportunidade de apresentar um programa de culinária, em que sua missão seria ensinar donas de casa a preparar a melhor refeição para o marido e os filhos. Mas ela faz muito mais que isso, uma vez que utiliza esse espaço para dar uma verdadeira aula de química, ensinando aos seus telespectadores a produzirem uma refeição legitimamente saudável e saborosa, além de fazer com que uma nação inteira de telespectadores entenda a significância do trabalho e do papel desempenhado pelas subestimadas donas de casa e estimula as mulheres realizarem seus sonhos podados pelo patriarcado.
Elizabeth Zott é uma mulher muito à frente de seu tempo que faz as próprias regras da vida. Citando as próprias palavras da protagonista: “a coragem é o cerne da transformação, e estamos biologicamente programados para nos transformar”.
No decorrer da narrativa nos deparamos com a história de amor entre o brilhante e excêntrico Calvin Evans e a personagem principal. A química entre eles é inegável e apesar de ser uma história marcante e que complementa o desenrolar do livro, a escritora deixa claro que o foco não é somente o interesse amoroso entre os personagens, mas sim a ruptura dos padrões sociais que a protagonista está realizando.
Sobre os personagens secundários, o meu preferido com certeza é o Seis e meia. A narradora coloca os pensamentos do cachorro na história e isso é incrível! Um cachorrinho inteligente, amável, parceiro, amigo e leal aos seus tutores, um verdadeiro ente especial da pequena e adorável família de Elizabeth.
É necessário lembrar que a história se desenrola em um cenário completamente hostil para mulheres, e violências de todo tipo são retratadas, inclusive sexuais, o que pode servir de gatilho para quem é sensível a esta matéria. Porém, tais cenas não são acrescentadas de forma casual ou romantizada, como costumamos ver. Causam desconforto e tem uma razão para estarem ali.
Este livro tocou minhas emoções em diferentes situações e por diferentes motivos, e me fez pensar que, embora tenhamos conseguido muitas coisas, ainda há um longo caminho a percorrer antes de vivermos em uma sociedade mais igualitária onde os direitos das mulheres são respeitados.
Como já dito, Uma Questão de Química é um livro com diversos momentos engraçados, divertidos e com um senso de humor peculiar e inteligente. Esta é uma obra que com certeza daqui uns anos vou querer revisitar e reler, para vivenciar novamente a experiência que sua leitura desperta.
A série televisiva adaptada pela Apple TV+ inspirada no livro também foi muito bem feita, com uma boa construção dos personagens e um roteiro que soube passar toda a atmosfera criada nos livros, além de ter atores maravilhosos em seu elenco como a atriz Brie Larson, a nossa eterna Capitã Marvel.
10/10!
Leitura recomendadíssima, para mulheres leitoras eu consideraria uma parada obrigatória!
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