A Peste de Albert Camus é um livro clássico e intenso que tive a experiência de ler ainda na faculdade, durante o período pandêmico, sob a influência de um professor que lecionava a matéria de Filosofia do Direito.
A narrativa se passa na pacata cidade de Orã retratando um repentino surto da Peste Negra, e, neste contexto, mostra como os habitantes da cidade reagiram à doença. Apesar da data de publicação do livro ter sido no ano de 1947, ainda assim, sob a narrativa do principal personagem, o médico Dr. Bernard Rieux, são surpreendentes as reflexões levantadas pelo personagem e as similaridades com os acontecimentos ocorridos no cenário pandêmico instaurado pelo Coronavírus.
A história se inicia com o aparecimento cada vez maior de inúmeros ratos mortos pela cidade, o que ocasiona na propagação gradativa da transmissão da peste aos cidadãos de Orã, provocada por uma bactéria transmitida ao ser humano por meio de pulgas que infestam ratos e outros roedores.
Com o avançar da epidemia a população de Orã é posta em quarentena e a cidade é fechada ao resto do mundo, ao passo em que fica retratado o evidente sofrimento dos moradores, assolados pela tristeza, medo e, nos casos da população periférica da cidade, também pela miséria, sempre enfrentando a sensação de que eram todos prisioneiros.
Na evolução dos acontecimentos observamos o rápido aumento do número de mortos e também o ceticismo dos cidadãos quanto a estas mortes. Dentre as importantes reflexões abordadas no livro está a luta do médico contra a abstração e consequente banalização das mortes ocorridas devido a epidemia.
O autor criou uma metáfora entre a peste e o fascismo, enrustidos e disseminados sobre a sociedade e, com isto, vem trazer à baila questionamentos sobre as mortes produzidas pelos seres humanos, uma vez que não lutamos pela vida ou para que as pessoas sobrevivam e simplesmente as deixamos morrer.
Os ideais fascistas estão embutidos na lógica do sistema, onde é levado em consideração o proveito econômico ou político obtido de determinada situação em detrimento da vida do outro, ocasionando a banalização do mal. O Dr. Bernard Rieux, em sua incessante luta contra esta indiferença, tenta a todo custo unir esforços para salvar cada vida.
O ceticismo a ciência presentes no cenário pandêmico, referente ao período do Coronavírus, também nos faz refletir sobre uma importante passagem contida no livro em que esclarece sobre o mal existente no mundo que provém quase sempre da ignorância e que a bondade, se munida do vício inerente a ignorância, pode vir a causar tantos danos quanto a maldade.
Em resumo, este é um bom clássico. Camus foi muito feliz em retratar as mazelas humanas vividas em um período epidêmico, o que faz de um livro escrito em 1947 ser tão atual.
10/10!
Leitura recomendadíssima! E você, já leu? O que achou? Deixe sua opinião nos comentários!