“É isso a única coisa que merece existir nas histórias, como na vida verdadeira. O amor, o amor oferecido às crianças, às suas como às dos outros. O amor que faz com que, apesar de tudo o que existe, e de tudo o que não existe, o amor que faz com que a vida continue“.
Sob a temática da Segunda Guerra Mundial e ambientada dentre as atrocidades ocorridas durante o Holocausto, A Mercadoria Mais Preciosa foi a fábula mais triste que já li.
Neste admirável conto, Jean- Claude Grumberg aborda um dos capítulos mais tenebrosos da história: a deportação de milhões de judeus para os campos de concentração nazistas.
A narrativa traz dois personagens, o pobre lenhador e a pobre lenhadora, que tentam sobreviver às dificuldades trazidas pela guerra, no meio de uma floresta situada ao lado de uma ferrovia, em um ambiente com nítida escassez de recursos.
Assolada pela fome e todas as dificuldades enfrentadas neste período, a pobre lenhadora observa diariamente os comboios que passam pela ferrovia, e deseja que, algum dia, aquele trem, pudesse enfim ter piedade de sua fome e, ao passar, lhe dar como esmola uma de suas preciosas mercadorias, isto, sem ter nenhuma noção do que realmente se passava naqueles vagões.
De outro lado, o livro também retrata a agonizante e desesperadora jornada vivenciada pelos passageiros do trem. O comboio, na verdade, não levava mercadorias tradicionais, levava humanos.
“Eles passaram e repassaram, noite e dia, dia e noite, na indiferença total. Ninguém ouviu os gritos dos comboiados, os soluços das mães misturando-se aos estertores dos velhos, às orações dos crédulos, aos gemidos e aos gritos de terror das crianças separadas dos pais já entregues ao gás.”
Apesar de todas as dificuldades, a pobre lenhadora ainda guarda um sonho, o de ter um filho. E, coincidentemente, em uma bela manhã, seu desejo acaba se tornando realidade, quando ao observar um dos trens na ferrovia, uma mercadoria lhe é lançada, lhe dando de presente o que ela mais ansiava na vida, um bebê.
Seria aquele bebê um “sem coração”? E o que fazer para alimentá-lo e protegê-lo, quando crianças como ele estão sendo caçadas e aniquiladas?
Certamente, a pobre lenhadora não iria permitir que lhe tirassem a tão sonhada dádiva de ser mãe, e faria tudo para cuidar da sua mercadoriazinha.
Esta é uma história de amor e sobrevivência, que de uma maneira simples e aparentemente despretensiosa, mas não menos profunda, narra as violências ocorridas durante a Segunda Guerra Mundial, e, ao mesmo tempo, em que se assemelha ao genocídio ocorrido durante a guerra, encanta ao demonstrar o sentimento de afeto em meio aos conflitos desencadeados pelo fascismo, e como o amor pode resistir mesmo diante das piores crueldades.
A sensibilidade humana é reencontrada no âmago de um dos períodos mais devastadores de nossa trajetória. O enredo ainda tem o poder de nos levar a questionar sobre até que ponto a humanidade pode chegar em sua crueldade, ou em seu amor.
Recomendo a leitura, especialmente para aqueles que apreciam livros sobre a Segunda Guerra Mundial. Temos aqui uma ótima chance de apreciar uma obra cujo gênero textual não é tão comum em livros para adultos, uma vez que está se trata de uma fábula.
Além disso, para aqueles que apreciam histórias que se baseiam em fatos reais, é interessante notar que esta fábula guarda um pedaço bastante significativo da própria história de seu autor, em vista que, infelizmente, os familiares de Jean- Claude Grumberg foram vítimas do regime nazista.
Livro10/10!
Sinopse: Um casal de lenhadores observa, diariamente, comboios atulhados de gente passarem diante de seus olhos. Ingênua, a mulher sempre espera por um aceno ou mesmo um presente. “Para onde vão essas pessoas?”, ela se pergunta. Até que alguém joga o presente que ela jamais pensou receber: um bebê. Neste breve relato, o autor, à maneira das fábulas, fala de um dos capítulos mais tenebrosos da história da humanidade: a deportação de milhões de judeus para os campos de concentração nazistas.
